domingo, 18 de janeiro de 2009

Leituras em tempo de cansaço

«Dormi pouco. Julguei ver-te várias vezes no caminho. (..) Ao abrir sem querer o guarda-luvas redescobri o teu cheiro. Por duas vezes pensei na tua boca em estado de pura provocação. Eras quase tu e nunca me dizias nada. O cansaço deixa-nos tão vulneráveis.»

Pedro Paixão em Amor Portátil

Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...


Fernando Pessoa, in Cancioneiro

Quando triste adormeço, triste amanheço. Boa noite para ti, que és da chuva e do silêncio.

3 Comentários:

grace disse...

Fernando Pessoa iluminou metade do caminho que já precorri.

grace disse...

correcção de erro

percorri*

Alison disse...

"Quando triste adormeço, triste amanheço". Também me acontece.

Powered By Blogger

Etiquetas

BloguEL © 2008. Template by Dicas Blogger.

TOPO  

counter to blogger