quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Alguém especial para mim ou assim...

"Alguém especial para mim ou assim", escreveu isto com a coragem de quem não tem medo de ser fraco, nem orgulho em ser tão forte.

Às vezes a voz parece agrilhoada em correntes tão fortes que temos tanto medo de as partir como a nós próprios. Porque se partirmos as correias da voz ela pode correr desenfreada por aí, a língua estica como se fosse de borracha e serpenteia pelos túneis escuros do silêncio inundando distâncias. E o vazio que era eco sem voz do outro lado fica cheio de um mar de palavras que ou nos afoga ou embala como a mais suave almofada ou as águas quentinhas do México. Porque os silêncios são como o mar e a diferença está no mar, se é de Inverno ou de Verão, se está bravio ou sereno. Se depois das palavras o mar fica calmo o amor vence e leva-nos à praia solarenga e às brincadeiras na areia, se as palavras são demónios enfurecem Neptuno e o mar engole-nos para o fundo. Naufragamos. A diferença está no mar.

Nasci na Atlântida. Para mim tudo é brilhante e amor, há sempre um bocadinho para o abraçar. E tenho medo dos silêncios. Tenho medo de perder a tua voz do outro lado do túnel. E que o túnel aumente tanto que nem correndo ao máximo de mim não consiga chegar ao outro lado. Não é obsessão, não, é saudade. É saudade de quem gosta, de quem pensa naquele sorriso quando acorda e chama por ele quando não consegue adormecer. É saudade de quem lê palavras antigas quando não há novas, de quem é sempre capaz de fazer mais um bocadinho por um sorriso maior. É nessa saudade de ti que eu vivo e nessa Atlântida em que danço a minha inocência e ternura infinita. Entre sonhos e quimeras, esperanças e utopias. Ilusões? Não. Faço puzzles das tuas palavras e dos teus sorrisos, reforço as linhas da manta de recordações e pinto um arco-íris de pano de fundo dos nossos momentos. Sempre que sinto a tua falta, prolongo as recordações. Dou-lhes outras cores, lembro outras palavras, pequenos momentos, instantes preciosos. E assim parece sempre, mas sempre, que estive contigo ontem.

E quando o medo quer levar a melhor, quando fica frio e aquela vozinha má me quer fazer triste sussurrando a minha solidão e o teu silêncio, eu agarro-a com as mãos e meto-a dentro do saco de recordações, sufoco-a até morrer. Por fora o saco está decorado de fotografias e saudades. E como Pandora, guardo lá dentro todos os demónios que me querem fazer mal. E nunca vou abrir a caixa. Porque mesmo longe de mim, há um tesouro desembrulhado mas nem por isso fugidio, há um tesouro fora dos meus braços mas que corre sempre para eles, há um tesouro que reluz sempre mais e mais e que não precisa de ser metido num saco para ser meu. Apenas sentir o meu carinho de vez em quando. Limpo-lhe a poeira dos dias e ele está pronto para brilhar mais e mais. E é sempre melhor.

O meu tesouro és tu.

2 Comentários:

grace disse...

tao bonito! o último paragrafo é um doce.

Fátima disse...

=)

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